Sou
diagnosticado com distúrbio de ansiedade generalizada faz dois anos.
Picos variantes
da doença também me acompanham. Como síndrome do pânico e depressão... Em
tempos difíceis, minha cabeça transita ininterruptamente entre os três, causando
uma explosão de pensamentos e substâncias químicas no meu corpo que queimam,
parecendo destruir tudo por onde passam. Tanta energia desenfreada faz meu
corpo parar e suas funções mais básicas como respiração, visão e movimentos
simples do corpo parecem parar de funcionar.
Entre muitas
crises em um curto período de tempo, fui muito ao hospital. É estranho sentir
como se estivesse quebrando aos pedaços, mas cada aparelho de monitoramento
corporal apontarem normalidade em seus sinais vitais. Aparelhos esses que, para
a maioria dos médicos e enfermeiros do pronto socorro, são mais confiáveis que a
minha palavra.
“Está tudo
normal com você, o monitor aponta dados normais. É só uma crise”.
“Tenta ficar
calmo. Já já o calmante faz efeito. É tudo psicológico.”
É claro que para
o tratamento de uma descarga de energia o tratamento seria acalmar o corpo
sendo pisoteado por ela. Mas palavras importam.
E muito.
Estar “só” em
crise, implica na sensação de morte de todo o seu corpo em uma única puxada de
ar. É saber que seu pulmão não está em sintonia com seu cérebro e seu oxigênio,
não vale de nada se você não o sente lá.
É estranho
sentir que seu corpo não se comunica direito com ele mesmo. Pensar nisso
durante uma crise na verdade é mais desesperador que qualquer coisa.
Mas isso é só
uma parte do que de fato é ter ansiedade. As crises passam em exatos 45 minutos
após ingerir 0.25 miligramas de clorazepam, do jeitinho que informa a bula. O pior
está no dia a dia. Ou melhor, no dia-após-dia. O que mais irrita nessa desordem
cerebral está nas pequenas coisas. Nas normalidades que a vida proporciona para
a maioria das pessoas e exigem um esforço imenso para serem feitas sem
desencadear a tão temida crise.
A raiva deste
sentimento nem é tanto sobre coisas que já deixam as pessoas nervosas; como
falar em público, primeiro dia de aula ou entrevistas de emprego. Você sempre
terá alguém para partilhar e entender seu nervosismo nessas situações. Não que
seja algo bom que todos passem por isso. Mas o alívio por não se sentir sozinho
é tão grande que até supre a raiva de se sentir quebrado. Inapto para coisas
que a maioria das pessoas mesmo nervosas, conseguem desempenhar com poucas
dificuldades. Elas não travam a ponto de não conseguir se mexer. Não perdem
todo o ar de seus pulmões mesmo com eles funcionando perfeitamente a cinco
minutos atrás.
Mas nem sempre
temos essa sorte...
Às vezes o
sentimento de incapacidade vem. E dá vontade de querer desistir. Pra alguém que
não tem ansiedade, talvez seja difícil visualizar o que sentimos. Mas é muito,
muito forte. Às vezes parece que maior que nós mesmos.
É uma bagunça.
Sempre....
É você estar
indo para o trabalho e o ônibus estar parado no farol e mesmo assim encarar
fixamente as janelas por achar que um caminhão vai aparecer da rua vizinha e
bater ali. E toda vez que o motorista acelera, você imaginar uma batida virando
tudo de cabeça para baixo.
É pensar duas
vezes antes de sair num dia chuvoso mesmo com guarda-chuva, porque um raio pode
te acertar em qualquer momento e você não tem como se proteger.
É pensar que
cada cigarro fumado pode ser o último porque não faz bem. Mas você precisa
tanto de algo para ajudar a relaxar que arrisca o adiantamento da vista da tão
temida morte. É ser antagônico em seus pensamentos porque precisa equilibrar na
medida do possível como lidar com tudo que se passa na sua cabeça, com a espera
contínua do que pode acontecer e nunca ficar em paz com isso.
É temer tanto a
morte a ponto de ser escravo dela. Usar todo o seu tempo curto e precioso de
vida com medo de perde-la. É se imaginar como um pedaço do vidro mais fino e
frágil que existe. E mesmo assim escolher enfrentar todas as pequenas
possibilidades de morte dentro da sua cabeça, porque sabe que têm motivos
suficientes para continuar lutando.
Saber que vou
enfrentar a chuva (e os raios) para chegar em casa e poder brincar com minha
cachorra vale sim o enfrentamento diário. Poder sair com meus amigos, dar
muitas risadas, assistir um filme no cinema com meu namorado e aproveitar tudo
que for possível me traz uma força que nunca enfraquece. E no final das contas
não ter ansiedade não é “só” sobre seus medos e limitações. Mas também
reconhecer tudo que te motiva a viver mesmo que seja muito difícil pra você. É
cortar tudo que te faz mal e é possível cortar, porque você já tem problemas de
mais com o impossível de controlar. Não tem sentido manter o que pode ser
descartado.
Não é de todo o
mal esse turbilhão interno. É claro que seria muito mais fácil sem ele, mas
existe a escolha de se entregar e se fechar para tudo. Ou a de você reconhecer
as pequenas coisas que também são os motivos de tanto esforço.
Pra cada crise,
cada dor no peito e cada duvida sobre a necessidade de viver assim, terá uma
pessoa, um hobbie, ou um gesto que te lembre o porquê de se estar lutando.
Ansiedade pode ser sim sobre seus medos. Mas também pode ser uma oportunidade
de reconhecimento do que de fato te traz felicidade. E você já está tão
acostumado a lutar que briga por isso com unhas e dentes.
Por que você
quer isso.
Viver pode ser
sim temer e esperar a morte. Mas escolher ser forte e ser movido por momentos
que te fazem bem, envolvendo o mundo externo ou não, é o mais perto que você
vai chegar de esquecer o medo.
Se policie para
focar somente no que te faz bem.
É claro que é
difícil fazer o tempo todo. Mas cada segundo conta. Enxergue pelos seus olhos,
deixe de lado um pouco os óculos da ansiedade. Só você pode e consegue
tirá-los. E é você que tem que ser mais forte que tudo isso. O máximo de tempo
que conseguir.
Se ajudar é o
nível máximo de auto controle e tudo bem não conseguir de primeira. Buscar
ajuda já mostra muita coragem e no seu tempo será sim possível encontrar isso
em você mesmo.
E será a hora de
perceber que a melhor ajuda que você pode conseguir, vêm de dentro. E sempre
estará lá. Esperando para ser usada nos momentos que mais precisar.
Contar com isso
é perceber:
Você nunca está
sozinho. Vale a pena viver.
Texto escrito por Gustavo Rodrigues.
<3
ResponderExcluirMuito meu orgulho
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